terça-feira, 25 de maio de 2010

Documentário – realidade ou ficção?

Às quintas-feiras o Teatro Municipal Átila Costa, em São Pedro da Aldeia, exibe, numa parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), filmes, em especial nacionais, que buscam valorizar e integrar a diversidade cultural brasileira. Como tornou-se habitual, os documentários prevalecem quando o assunto é mais próximo da realidade. Mas afinal, de onde vem o documentário? Como ele consegue tornar o mundo das câmeras mais próximo do real? Será que é possível efetivamente invadir a realidade, sem omitir o que lhe convém e explorar o que lhe dará retorno?

Segundo Dziga Vertov (1896-1954), a arte cinematográfica deveria sim servir como forma de expor a realidade. Seguindo essa linha de raciocío na atualidade, Eduardo Coutinho, cineasta brasileiro, consegue passar sentimentos variados e sem uma conclusão imposta. A arte de seu cinema está na reflexão.

Isso torna-se evidente em “Edifício Master”, onde Coutinho, quase ignorando os padrões cinematográficos, não deixa de fazer arte. Mostrando o cotidiano de moradores de um edifício situado em Copacabana, ele explora a intimidade de cada um, deixando-os à vontade quanto ao tempo e à produção.

Esse tipo de “fazer cinema”, que se apega à realidade de forma especial, surgiu do denominado Cinema Direto, nascido por volta das décadas de 1950 e 60 e que teve como base o trabalho do russo Vertov. Richard Leacock, diretor inglês nascido na década de 20 sintetizou esse sentimento: "Nada de entrevistas. Nada de tripés para a câmera. Nada de luzes artificiais. Nada de repetições. Jamais dirigir o posicionamento de alguém que está sendo filmado. Jamais intervir no que está acontecendo".

No Brasil, o Cinema Direto teve como pontapé inicial a Homenagem ao Cinema Brasileiro, organizada pela Cinemateca Brasileira em 1961. Apesar do impacto, os filmes ainda não tinham sincronia do áudio com o vídeo, uma das principais inovações desse movimento.

O tempo passou e esse tipo de cinema desembocou no documentário, gênero cinematográfico extremamente informativo e que se revelou importante para organização de idéias, manifestos e, mais recentemente, na propagação da cultura.

O Cinema Militante é um exemplo de desdobramento do documentário e do próprio Cinema Direto e surge nos anos 60 em meio a Ditadura Militar argentina. “A Hora dos Braseiros”, uma das produções desse período, desenvolve uma análise daquela Argentina. A Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) utilizou-se significantemente do filme para expor os problemas enfrentados por essa classe. As projeções eram interrompidas para a discussão dos problemas postos pela produção.

A iniciativa do teatro Átila Costa em parceria com o IPHAN tem como alvo integrar a cultura nacional. Exemplo disso está na exibição do documentário “Tambor de Crioula”, que refere-se a um movimento de origem negra, oriundo dos africanos, que desembarcaram no Brasil em meio ao tráfico de escravos do período colonial, e que se mantém no estado do Maranhão.

Esse documentário, como os outros, tenta cumprir o papel de expor uma realidade. Planos médios nas entrevistas, narrações com imagens da manifestação cultural, som e animações que ditam o ritmo da produção e mais uma série de técnicas que embasam tal exposição. O que pensar, então, do que Vertov e seus seguidores afirmavam? Aí está a grande controvérsia do trabalho que deu origem ao documentário. Será que até mesmo o básico da direção e das técnicas cinematográficas e principalmente a etapa da montagem não excluem, ao menos, parte da realidade, mesmo que não haja tal intenção? Haverá, enfim, um cinema que reproduza a realidade? Será puramente real a obra de Eduardo Coutinho e de Vertov, como desejavam?

LUCAS MARTINS,  IZADORA MEDINA, VINÍCIUS ANDRADE, RICARDO JUNIOR, RAFAELLA SENOS, LARA LONGOBARDI

Um comentário:

  1. Saudações pessoal!
    que surpresa tive agora ao encontrar o nosso blog atualizado e com ótimos textos!! Estão todos de parabéns! Os elogios estendem-se aos 3 artigos, mas quero fazer alguns comentários em cada um deles.

    Muito bom o caráter de divulgação de uma boa iniciativa associada a leitura e pesquisa de vocês sobre o tema. Coloquem na lista de filmes de vocês e assistam estes documentários a que se referem (vocês tooodos).

    Em Niterói costuma ter, mais pro final do ano, o Araribóia Cine: um festival de curtas metragens muito interessante. Em 2008, assiti, nesse festival, uma sessão com 2 curtas metragens abordando a questão do documentário. Ambos são documentários ficcionais!!! Não conhecia este gênero e recentemente descobri que até tem um nome, mas não me lembro (mas pergunta para a Prof. Bianca). Os curtas eram "Documentário" (de Rogério Sganzerla, 1966) e "Procura-se" (de Rica Saito, 2008), um documentário riquíssimo sobre Mário Rocha, um músico que marcou toda uma geração de músicos, cheia de depoimentos de famosos e amostras de sua arte... só que ele nunca existiu. Peguei até o contato do Rica, se quiserem uma cópia, entrevista ou sei lá!

    Abraços!

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